quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O culpado é o chimarrão



Por Fernando Garros,
ZeroHora(1º/09/2010,pag.24)

Não sei ao certo, mas acho que descobri o porquê de o Rio Grande do Sul ser considerado um Estado de povo tão crítico, de nível cultural tão elevado e , aproveitando o momento, tão politizado. Nem a origem europeia, nem o clima.
O culpado é o chimarrão.
Evidente que a mixagem de povos europeus que aqui chegaram em busca de um clima parecido com o da Europa influenciou sobre maneira nossa construção como povo gaúcho. Foi gente trabalhadora, na sua maioria empreendedores que vislumbraram um Eldorado de oportunidades no solo gaúcho. E, por sua índole, tenacidade e vontade de construir futuro, fincaram um caráter de trabalho, honradez, de responsabilidade na imagem do povo gaúcho.
Também é claro que o clima dessa linha debaixo do Equador também ajuda. Povo que acorda cedo e sabe que a praia é ruim não tem tempo a perder. E o frio requer cortar lenha, fazer casaco, construir abrigo. Tudo isso faz com que o gaúcho tenha essa linha "estamos aqui para trabalhar" nas suas veias.
Mas o fato preponderante que faz com que o gaúcho tenha mais "consciência" das coisas e não se deixe levar por qualquer conversa é o chimarrão. Mais especificamente, a roda de chimarrão.
Quem já participou de uma sabe que a cuia vai de mão em mão, enquanto a conversa se alinha. Então, o que acontece a seguir é um processo muito interessante. Quem acabou de tomar está conversando e expondo seus argumentos. E não é interrompido. E quem está tomando está ouvindo. Pensando. Ponderando. Refletindo. Analisando. Quando termina de tomar, passa o chimarrão a diante e toma o quê? A palavra. E aí, contra-argumenta, debate, justifica, discorda ou concorda.
A dinâmica que o chimarrão nos impõe é a da espera. O tempo de ouvir. A capacidade de refletir. E isto faz toda a diferença na hora de aceitar uma proposta, uma novidade, um nome.
Quem já não usou uma roda de chimarrão para refletir sobre o futuro dos filhos, o nome do pretendente a genro, as contas no banco, aquela viagem a Europa ou o que fazer com a casa da praia? E sobre em quem votar, então?
É, o chimarrão tem muitas virtudes.
Uma delas que que faz bem para a cabeça.

Nenhum comentário: